domingo, 1 de maio de 2011

Aonde eu deixei mesmo?








Existem mães super organizadas. E existem as mães como eu.Toda vez que saio pela porta de casa com as crias levo uma sacola de mão principal que tem, entre tantos badulaques, as fraldas, a fralda de pano, lencinhos umedecidos, lencinhos de papel, uma muda de roupas para cada um, um kit primeiros socorros, pares extras de meias, cuecas e calcinhas; garrafas de água, chupeta e lanches. Tem outra sacola, tão grande quanto e que vai junto, onde vão os carrinhos, kits baldinho, bichos de estimação e seja-lá-o-que-as-crias-resolverem-levar também naquele dia para o parquinho. Tem também minha bolsa. Sinto-me uma cigana vagando pela areia, entre escorregadores e balanços . Administrar toda essa tralha infantil requer tamanho esforço que um quinto nunca volta para casa, por mais organizada que as coisas estejam dentro das sacolas. O meu inventário é próximo ao do Carrefour. E olha que eles tem pessoas especializadas para fazer isso, programas de computador e rede integrada. Eu tenho o Tico ou o Teco dentro de minha singela massa cinzenta.


O divertimento da cria menor no momento é enterrar os carrinhos favoritos, aqueles que ele não pode dormir sem a companhia, pela areia como se fossem ossos de cachorro para ver se ele consegue achar dois dias depois. Quem acaba de de gatinhas fazendo buracos com a pázinha pela areia tentando recuperar o Macqueen para que esse moleque não surte na hora de dormir mais tarde sou eu. A cria maior por sua vez coleciona qualquer papelzinho que é distribuído pelo trânsito-ela tem uma coleção de anúncios de construções de prédios e outra de desentupidores e dedetização que devem valer uma fortuna noMercado Livre- que ela guarda em vários ninhos espalhados pela casa, apesar de não faltarem gavetinhas para ela ocupar. Duas semanas depois ela me pergunta aonde está aquele assim-assim que ela não consegue achar de jeito nenhum (porque eu joguei fora, evidentemente) e ela tinha deixado alí, ó.


Da minha parte, se vou ao banheiro lavar as mãozinhas cheias de lama de algum deles, o anel fica na pia. Se preciso tirar os óculos escuros para que eles não caiam quando estou abaixada fazendo bolinhos de areia, é lá mesmo que eles ficam. Se tirei o casaco e deixei no banco para poder me movimentar com mais conforto enquanto corro atrás deles brincando de lobo mau, a campanha do agasalho me agradece. Meu guarda-roupa diminuiu significativamente de tamanho desde que me tornei mãe.


Meu consolo é que, colocando as coisas em proporção real, nada disso tem muita importância. A gente pode repor tudo isso, pode guardar tudo nos seus lugares só para ver os filhos criarem um tapete de brinquedos e fantasias pelo chão do quarto, e guardar tudo outra vez. Até mesmo o carrinho que ficou perdido para sempre enterrado na areia a gente vai fazer o impossível, até mesmo bater na porta da Ri Happy às 8 da noite, para conseguir outro igual em tempo da cria ir dormir.A gente perde outras coisas também: a paciência, o sono, a segurança, o bom-humor, a auto-estima. O que não tem como perder é o sorriso de nossos filhos, mesmo com a boca cheia de janelas. Esse está bem guardadinho dentro do coração.




Flavia Fiorillo



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